Tenho pensado no drama daquelas pessoas que têm algo a dizer mas que, uma vez alçadas à categoria de celebridades (quando viram fenômenos midiáticos e passam a ser convidadas diariamente a todo tipo de encontro, entrevista, palestra, talkshow etc.), têm suas palavras tragadas por um outro tipo de fenômeno: o do desgaste pela exposição excessiva. De uma hora para a outra, aquelas pérolas de sabedoria começam a soar como autoajuda de quinta categoria, e as palavras que antes causavam alvoroço, interesse e mesmo paixão agora provocam enfado e desconfiança.
O pior é que, antes mesmo do público vir a sentir isso, o próprio pensador (promovido inadvertidamente a guru e de quem se espera que tenha opiniões incríveis e reveladoras sobre todos os temas possíveis, seja sobre felicidade ou religião, política ou sexo) já o sente. Ele começa a perceber que está se repetindo pelo timbre da própria voz: percebe que as palavras vão se desgastando em sua boca, perdendo o brilho, o viço, a novidade. Já não fala: cita a si mesmo (o fenômeno da fala falada e da fala falante descrito por Merleau-Ponty). Começa a se sentir um vendedor (vendedor de algo, mas de que mesmo?) e a temer que tenha se tornado um embuste (mesmo quando não é esse o caso).
Fazemos com o mundo das ideias o mesmo que fazemos com certas músicas de sucesso: quando estão na moda as ouvimos incansavelmente e depois nos geram cansaço pelo resto da vida (experimente cantar We are the World). Percebemos no século XXI que não se trata mais de encontrar verdades, mas de consumi-las. Os pensamentos sábios precisam ser periodicamente repostos, é preciso que haja constante renovação. Se é que os consumimos de fato… Talvez nem isso seja verdade; desde nossas confortáveis poltronas, talvez só queiramos ser entretidos. E aí não faz muita diferença se nos entretemos com Shakespeare ou com a revista Caras, com a Bíblia ou com novelas, com política ou futebol: tudo vira mero entretenimento.
Quanto aos falsos profetas, já que não nos salvaram, que sejam agora crucificados ou, ao menos, apedrejados. Aproveitemos os comerciais para fazer pipoca e voltar a tempo de ver o show, será divertido.
Alberto Heller
2 Comentários. Deixe novo
Boa reflexão. E às vezes o "guru midiático" nem tinha esta intenção! Nem sabe porquê virou um fenômeno. E, às vezes, acaba nos 15min de fama e … desaparece. E igualmente não sabe porque desapareceu!
O seu texto reflete o que tenho observado a respeito desses " gurus" , em vez de análises mais aprofundadas, fazem apenas palestras de auto ajuda. Daí o sucesso midiático.