Sim: um arranjo floral (ikebana) pode, por mais singelo que seja, mudar o mundo. Mas ele é tão pequeno, e o mundo tão grande! Sim, ele é pequeno. Mas ao fazer um ikebana (ou mesmo ao contemplá-lo) meu ser se transforma: meu rosto se desanuvia, minha energia se harmoniza, passo a vibrar de maneira mais sutil. Mudo de frequência. Saio então à rua e não grito com o motorista que corta meu caminho sem dar sinal; em vez de alterar-me e xingá-lo, penso simplesmente que uma boa pessoa teve um momento de distração, talvez estivesse atrasado ou numa emergência. Chego ao trabalho e dou uma aula melhor – e as pessoas que tiveram aula comigo nesse dia sairão melhores que quando entraram, também elas levarão adiante algo dessa boa energia. Trato as pessoas com mais delicadeza, olho-as mais demoradamente e ao apertar suas mãos, aperto realmente suas mãos. Vejo beleza, espalho beleza.
Isso muda o mundo? Sim, muda. Pois o mundo é isso, isso que está ao meu alcance. Eis a profundidade do estético (aisthesis= conhecimento sensível), o verdadeiro sentido da cultura: cultivar, cuidar, zelar.
Fazer um ikebana não colocará você nas notícias da TV nem do jornal – se comparado às grandes tragédias do mundo, o ikebana é quase nada. Mas é nesse quase nada que reside nossa máxima humanidade.
Alberto Heller
2 Comentários. Deixe novo
Desejo um ikebana por dia para todos! Belíssima percepção! Abs
……..pois , como na música, o que resta senão a delicadeza das " diminutas "? elas realmente mudam o mundo!