Troquei recentemente de carro; no painel do novo aparece um monte de informações que no outro não havia – e eis que de um dia para o outro passei a prestar atenção em detalhes com os quais eu antes nem me importava – como, por exemplo, consumo: antes, quando o ponteiro do combustível chegava na reserva, eu parava num posto para abastecer. Simples assim. Agora há um marcador que me diz o tempo todo quantos quilômetros o carro está fazendo por litro, e me pego olhando para ele com frequência cada vez maior, analisando as pioras e melhoras no consumo, avaliando as razões e os porquês das diferenças.
Em suma: o que está em nosso campo perceptivo captura e monopoliza nossa atenção. Ou, como diz Hannibal Lecter em O silêncio dos Inocentes, “Começamos por cobiçar aquilo que vemos todos os dias”. Mas como cobiçar o que nos escapa?
Fico pensando no que não vejo, no que deixo de ver, no que está além ou aquém do meu campo de visão e de audição; nas coisas importantes com as quais deixei de me preocupar ou que simplesmente esqueci que existiam.
Ontem, enquanto dirigia, quase cheguei a me lembrar de um sentimento vago e antigo, bonito… mas olhei para o painel do carro e constatei que o consumo piorara em relação ao dia anterior. Com o preço da gasolina, isso é realmente preocupante.
Alberto Heller
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Seu texto me fez lembrar uma das melhores letras de música do Oswaldo Montenegro…
A lista
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Sempre lembro e penso nisso… NUNCA chego à conclusão se minha lista é ou não boa…
Excelente percepção! Ótimo texto! Parabéns!
Linda essa letra, obrigado por compartilhar! Abraço!