Eu devia ter uns dezessete anos, na época tocava num piano-bar em Curitiba (eram os anos 1980, os piano-bares estavam então na moda). Certa noite, um jovem casal (deviam ter a mesma idade que eu) discutia numa mesa vizinha; o rapaz então se levantou e, decidido, veio falar comigo: “Você toca alguma música de Shakespeare?”, perguntou. Achei que fosse algum tipo de pegadinha e resolvi entrar na brincadeira: “Claro! Qual delas?” – “Qualquer uma!” respondeu, visivelmente satisfeito consigo mesmo. Comecei então a improvisar qualquer coisa, enquanto ele, triunfante, voltava-se à sua companheira amuada: “Está vendo? Não falei que era compositor?”
Continuei a tocar, torcendo apenas para não ser solicitado a repetir aquela invencionice maluca. Bem, certamente não era Shakespeare – mas quem garante que ele não compôs algo? Logo Shakespeare, um cara tão brilhante…
Como dizia John Cage, o passado precisa ser reinventado.
Alberto Heller
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Por isso o F. Gullar dizia que " … a arte existe porque a vida não basta". Eu quero estudar uma música da C. Lispector.
Qual delas? rsrs
Acho que ela compôs A felicidade clandestina usando tons menores e diminutas. Vou nessa. By
Soube não faz muito tempo que Nietzsche, o qual é muito conhecido por seus escritos, arriscou-se também na criação musical.
Uma coisa eu sei, que seja no qual você se inspira não me espanta pois és um gênio real de agora os outros não conhecia por que não foi minha época, prestigio o agora, continue Semp assim…