O tédio no olhar: quando o olhar não está permanentemente ocupado, isto é: buscando, procurando, vasculhando, projetando, verificando, trabalhando. O tédio no olhar é quando nada acontece e tudoacontece. É o olhar quando repousa numa obra de arte e ali, artisticamente, se faz – surge. Quando se demora – que é quando nasce o tempo (autopoiesis, autocriação; Santo Agostinho: “Não houve tempo nenhum em que não fizésseis alguma coisa, pois fazíeis o próprio tempo“; Confissões, XI-14).
Um tédio onde o olhar espera ao invés de expectar (duas formas bem distintas de viver o tempo). Assim esperando, de repente desabrocha, floresce (no tempo certo, não antes). O tempo de uma gestação.
Mas toda fecundação requer espaço, e o espaço surge na medida em que a vida não está toda preenchida por afazeres, por notícias que não nos interessam, mensagens por responder, chatices, fofocas e entretenimentos (os “lazeres”) infinitos que adiam nossa presença. Ausente, o olhar não vê, apenas opera. Máquina.
O olhar-tédio desmonta o olhar-agenda. E assim, esquecido-distraído, subitamente VÊ. Admirado, compraz-se com a visão.
Encontra por não buscar, cria por não fazer. Maravilha-se.
Alberto Heller
2 Comentários. Deixe novo
Você definiu o ócio produtivo: encontra por não buscar, cria por não fazer.
Belo texto e ilustração perfeita! Parabéns!
Obrigado!!!!