Quando perguntam a um artista a respeito de suas influências, sua primeira reação é listar grandes nomes – Dostoiévski, Machado de Assis, Van Gogh, Mahler… Mas a verdade é que estamos mergulhados no mundo, de maneira que tudo que vem ao nosso encontro mexe em algum nível com nosso ser. Li e amei Kafka, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa – mas também li e amei Asterix, Tintim e Turma da Mônica; li Heidegger, Nietzsche e Merleau-Ponty – assim como Bram Stoker e Stephen King; li Borges e Cortázar – assim como Frederick Forsyth, Tom Clancy e Robert Ludlum. Li Cem Anos de Solidão aos 13 anos – e nessa mesma época lia revistas eróticas em quadrinhos.
Com cinema não foi diferente… Até hoje sei muito bem a diferença entre bons filmes e lixo; mas às vezes é tão bom consumir lixo! (adoro restaurantes finos, mas de vez em quando um sandubão na rua é igualmente prazeroso). Sei que Godard é um grande cineasta – mas prefiro rever um filme com Schwarzenegger. Entre meus preferidos estão filmes como Asas do Desejo(Wim Wenders), Melancholia(Lars von Trier) e Cinema Paradiso(Tornatore) – mas vejo com maior frequência filmes de aventura, suspense, terror, policial (e de vez em quando um bom filme trash– de preferência com Coca-Cola e chips, uma experiência trash completa).
Na música não poderia ter sido diferente… Amo Palestrina, Schubert, Beethoven, Liszt, Skriabin… e também amo Pink Floyd, Queen, Rammstein… De criança ouvia junto com meus pais discos de música clássica, tango, jazz (meu pai era louco por dixieland, tangos e chorinhos) – mas ao mesmo tempo ouvia o que meus irmãos mais velhos ouviam: rock, muito rock. Nos anos 1980 me apaixonei pelos sons dos sintetizadores: Vangelis, Jean-Michel Jarre, Kitaro… Ainda adolescente, estudava música clássica durante o dia mas tocava música popular à noite em casas noturnas. Atualmente minha banda preferida é um conjunto de garotas norueguesas chamado Katzenjammer. Como intérprete, já toquei Bartók, Messiaen, Schönberg, Berg, Almeida Prado; mas também toquei Pixinguinha, Chico Buarque, Piazzolla…
Ao compor (ou ao escrever), tudo isso me envolve; quem sou eu para determinar o peso e a importância de cada uma dessas vivências? Nunca saberei. Em mim tudo isso se mescla indistintamente (o “nobre” e o “não nobre”, o “culto” e o “inculto”), e no momento em que minha mão se dirige ao papel, quem sabe se a maior influência não é nada disso, mas o vento que naquele momento sopra combinado ao sol tímido que neste exato momento entra pela janela entreaberta?
Alberto Heller
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Graande!!
Show de bola
Bem isso Alberto, somos o que somos com os gostos que temos, e livres para gozar do que nos faz bem. Obrigada por fazeres nossa vida mais feliz com tuas ideias e composições!
Muito bom, Heller!
Análise perfeita das influências sobre um artista! E completando ainda os "influenciadores", lembre-se da professora da escola, do vizinho, do amigo querido de infância, do inimigo mortal, dos irmãos, dos tios e primos, dos pais que teve, dos agregados convividos, dos amigos de boteco, dos colegas de turma, do padeiro da esquina… somos todos influenciadores e influenciados igualmente por tudo e por todos que passam ou ficam a nossa volta… por toda nossa vida!
Grande Kleber!!!! Abraço!
Feliz que tenha gostado!
Obrigado a você!!!! Beijo!
Obrigado!
Verdade!!!! Abração!!!
Caro Alberto, adorei o seu texto e gostei ainda mais da história… abraços!