O som que chega aos nossos ouvidos vem em ondas, percorrendo mares invisíveis: uma odisseia cheia de obstáculos e percalços até que, finalmente, alcança as praias da nossa audição. Nosso corpo o percebe como toque – um toque que às vezes acaricia, às vezes agride, som-vibração que faz nosso corpo todo vibrar: frequência. Uma ponte viva entre a fonte sonora e nós, um vínculo orgânico no espaço e no tempo. Sinergia.
Os dedos que percorrem o teclado do piano percorrem muito mais que apenas o piano: sobem pernas e descem costas, massageiam nucas, brincam com pés, escalam virilhas e escorrem por cabelos e pensamentos.
Fazer música é tocar à distância. Mas quem toca também é tocado – não apenas pela música que produz, mas pela música que todos os corpos presentes produzem: uma sinfonia quase inaudível de pequenos ruídos, respirações, batimentos cardíacos, roçares, olhares. O espaço todo vibra, o tempo todo. O TEMPO vibra. Fazer música é entrar em sintonia com essa vibração, é criar o próprio tempo e permitir-se ser criado pelo tempo.
A música pertence ao tato. Contato. Nela nos perdemos – você e eu –, nela nos encontramos – você e eu. Nela nos diluímos – não mais você e eu: apenas mar.
Alberto Heller
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Perfeitamente verdade! Poético, dramático, verdadeiro, perfeita definição de tocado e tocador…