Eu devia ter uns onze anos quando fiz a primeira comunhão, e me lembro do nervosismo quando chegou o dia de me confessar: o que contar? Algo tinha que ser confessado, algo que fosse ruim e pecaminoso (e de jeito nenhum eu pretendia citar as mil masturbações típicas de todo garoto nessa idade); falei então ao padre que desobedecera o mandamento de não matar: incendiara um formigueiro, e estava muito arrependido. A julgar pela pequena penitência que recebi, o caso não parecia grave. Mas chegou o dia da comunhão, e lá fomos nós, a maioria coleguinhas da minha turma de quarta série da escola. No momento de receber a hóstia, eis que ela ficou grudada no céu da boca; comentei com a menina à minha frente, uma magricela de óculos (creio que se chamava Juliana), que respondeu muito seriamente e sem se virar: “Cristo não quer entrar no seu corpo”. Puta que pariu, pensei em pânico, não pode ser! Desesperado, enfiei o dedo na boca até desgrudar aquele negócio e engolir tudo. [Fico pensando hoje em que terá se transformado aquela pequena psicopata].