Na noite de 02 de setembro de 2018 um incêndio consumiu a maior parte do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Inimaginável a quantidade de obras de arte que foram tragadas pelas chamas: quadros, esculturas, livros, documentos, pesquisas, trabalhos de vidas inteiras.
De forma geral, as Américas (do Sul e do Norte) não se apegam muito ao seu passado – diferente, por exemplo, dos europeus, que tudo registram e tudo guardam (com zelo, cuidado e responsabilidade). Admiramos o passado deles, mais que o nosso: falamos com orgulho de nossas visitas ao Louvre e ao Prado, mas esquecemos de visitar o museu de nossa própria cidade (aquilo que está longe sempre parece melhor e mais interessante, não é mesmo?).
Somos uma cultura que vive “para o futuro”: não temos “aquele fardo pesado” que carregam outros povos. Somos, portanto, mais “livres”, mais “criativos”, menos “amarrados” (há até aqueles que não estudam o passado porque “não querem se influenciar”). Vamos à praia, ao parque, ao shopping, mas não ao museu. “Lá é chato, escuro… e quando não tem um monte de velharias, tem gente pelada fazendo esquisitices, sem falar de exposições estranhas e instalações bizarras”. Melhor ir ao cinema, é mais divertido (desde que não seja para ver cinema-arte, filmes profundos ou dramas pesados, por favor!).
Trocamos a arte e a cultura pelo entretenimento.
O museu não é uma caixa que abriga antiguidades: é um universo de possibilidades. O filósofo francês Merleau-Ponty escreveu certa vez que “seria preciso ir ao museu e à biblioteca como ali vão os artistas, os escritores e os pensadores: na alegria e na dor de uma tarefa interminável em que cada começo é promessa de recomeço”. Mas para isso é preciso que haja museus e bibliotecas. E é preciso que lá se vá.
Alberto Heller
* Foto de Uanderson Fernandes