Por uma estrada de pedras caminho.
Caminho por uma estrada de pedras.
O calor é intenso: suo.
Olho para baixo
e vejo as pedras por sobre as quais eu ando:
são cinzentas, velhas, empoeiradas; todas parecidas, todas diferentes.
Por essa estrada de pedras eu ando,
e sinto o volume de cada pedra por sob a sola fina dos meus sapatos.
Meus pés doem, estou cansado: a estrada é mais longa do que eu pensara,
e não calculara que o sol estaria tão quente nem as pedras tão duras.
Mas enfim, continuo, e vou observando as pedras do caminho.
Lá, ao longe, vejo um campo verde.
Lá termina a estrada de pedras.
É para lá que leva a estrada de pedras, e é para lá que eu me dirijo.
Olho agora fixo para o campo verde, e tento assim esquecer
das pedras cinzas e duras que machucam meus pés.
Quando eu chegar ao campo verde, estarei bem.
Lá não doerão mais os meus pés, e lá haverá sombra.
Sorrio ao pensar nisso e continuo meu caminho.
* * *
Ando por uma estrada de pedras.
Por uma estrada de pedras eu ando.
Ao fim dessa estrada de pedras há um campo verde
e quando eu chegar ao campo verde estarei bem,
pois lá não doerão mais os meus pés
e lá haverá sombra para proteger-me do sol quente.
Lá serei finalmente eu; lá serei feliz.
Agora não sou feliz.
Caminho mais rápido,
a fim de encurtar o tempo que falta para encontrar-me,
mas o campo verde não chega nunca.
Procuro concentrar-me novamente no caminho,
para ver se com isso ele passa mais depressa.
Olho fixamente as pedras sobre as quais eu ando,
e fico surpreso ao encontrar nelas uma certa beleza
que até agora me havia passado aparentemente desapercebida.
Tateio as pedras com o olhar: sinto-lhes a forma, a silhueta,
como uma se encaixa na outra, mesmo sendo tão diferentes.
Percebo que o pó que as recobre empresta ao caminho um ar melancólico,
nostálgico, um certo romantismo já passado,
que agora volta só para os meus olhos.
Descubro que o caminho é mais bonito do que eu pensara.
* * *
Pelas pedras do caminho prossigo;
prossigo pelas pedras do caminho,
sempre em frente.
Por sob os meus pés as pedras duras,
por sobre a minha cabeça o sol ferrenho.
Suo.
À minha frente, longe, vejo um campo verde:
é para lá que eu estou indo, pois lá repousarei;
lá estarei confortável, à maciez e sombra do arvoredo.
Lá estarei bem.
Agora não estou bem.
As pedras do caminho são duras e machucam os meus pés,
e o sol queima minha pele e provoca minha sede.
Meu cansaço aumenta cada vez mais, e cada vez mais longe
parece estar o campo verde.
Mesmo assim continuo, pois sei que, se continuar, um dia chegarei lá.
Suspiro, e prossigo pela estrada de pedras.
Passado certo tempo, paro;
começo a duvidar da beleza do campo verde à minha frente,
e nem sequer a imaginária beleza das pedras me consola mais.
Constato, desacreditado e vazio, que nem o campo verde
nem o caminho de pedras
me motivam a seguir adiante.
Suspiro novamente
e entro à direita na primeira ruela que vejo.
Sem motivo algum.
Sem procurar por mais nada.
Também lá o caminho é de pedras,
e por essa nova estrada de pedras
prossigo minha jornada.
Caminho novamente por uma estrada de pedras,
mas não penso mais a esse respeito.
Meu olhar é baixo e triste.
Passa-se assim algum tempo.
Quando de repente ergo o olhar,
e vejo à minha esquerda
uma flor amarela.
Alberto Heller
5 Comentários. Deixe novo
Seu poema me fez lembrar de outro. Quando eu estudava letras, nossa amiga Regina me relatou um dia um poema de um escritor inglês (não me lembro o nome), que dizia sobre os caminhos escolhidos durante nossa vida, que sempre havia dois caminhos e entre eles… uma árvore amarela. A história é comprida… um dia lhe conto! Belo poema e espero que a flor amarela lhe dê a esperança que precisa para continuar caminhando sobre pedras…
Que ótima lembrança! Foram tempos muito bacanas aqueles do curso de Letras. Abração !
Robert Frost é o nome do poeta inglês. Se tiver curiosidade, leia o poema… nunca me esqueci dele.
E o nome do poema The Road not Taken … no original o sentido é único, nas traduções… um pouco deturpadas…
¡Muito bom, Alberto!